terça-feira, 13 de abril de 2010

Debatendo Quadrinhos: Mudanças na Panini

Depois de alguns dias fora do ar (páscoa e um problema com internet) o blog Nona Arte está de volta. E o retorno é com a coluna Debatendo Quadrinhos pra falar da revolução editorial que a editora Panini tanto anunciou nos últimos meses.

Antes de qualquer coisa vamos elencar essas mudanças. A principal foi a redução de páginas nas principais revistas mensais, de 100 para 78 páginas. Homem-Aranha, X-Men, Vingadores, Reinado Sombrio, Batman, Superman, Lanterna Verde e Liga da Justiça sofreram essa redução. Houve também uma redução de preço, de R$7,95 para R$6,50. Algumas revistas foram canceladas: Marvel Max, Marvel Millennium e Novos Titãs. Outras foram zeradas e tiveram suas estruturas modificadas: Avante Vingadores, X-Men Extra e Universo Marvel mudaram para 148 páginas e custaram R$14,90. Avante será bimestral. Outras revistas não se sabem o paradeiro, já que a editora não anunciou nada a respeito delas: Marvel Apresenta, Marvel Especial e Wolverine. E foram criadas algumas revistas; Homem-de-Ferro com 78 páginas; A Teia do Aranha com 148 páginas, mensal com histórias fora da cronologia do personagem; A Sombra do Batman, nos moldes da Teia do Aranha. Além disso, a editora disse que vai reforçar suas publicações especiais como encadernados de luxo, mini-séries e outros. O selo Vertigo não sofrerá nenhuma mudança com essa revolução.

Bom, por onde eu começo. Primeiro que de revolucionária essa mudança não teve nada. Ela conseguiu sim deixar a maioria dos leitores furiosos, pois nos fóruns e comunidades relacionados ao assunto só se vê gente reclamando e metendo o pau na editora italiana. Acabar com revistas de 100 páginas seria uma boa idéia se houvesse de fato uma redução de preço. Calcule comigo: uma revista de 100 páginas custava R$7,95, ou seja, R$1,98 por cada uma das quatro histórias. Agora uma revista com três histórias em 78 páginas a R$6,50 sai R$2,16 por história. Na prática não houve diminuição de preço, mas só de páginas, e isso de nada ajuda o bolso do leitor. Isso porque a editora já havia aumentado os preços das revistas no começo do ano, de R$7,50 para R$7,95. Agora mais um aumento. Tirando esse fato, revistas de 78 páginas podem ajudar no fato de que as pessoas só comprem revistas com histórias que realmente lhes agradem. Nada de Miss Marvel ou outros lixos.

Outra mudança foi a de estrutura de algumas revistas. Muita gente se queixava de que gostaria de ler determinado arco completo, sem ter que esperar os próximos meses pra ler a continuação. A criação de revistas com 148 páginas foi uma jogada interessante, porém mal executada. Afinal pagar R$14,90 é algo que nem todos podem dispor mensalmente, ainda mais com revistas que estão tão interligadas. Além disso, esse preço está muito alto, veja a revista Vertigo, por exemplo, que tem 132 páginas e custa R$9,90. Tudo bem que essas revistas de 148 páginas terão lombada quadrada e outros luxos, mas você pagar 5 reais por uma história a mais é um tanto quanto abusivo. Talvez a saída fosse deixar todas essas bimestrais.

As revistas que foram canceladas ou andavam mal das pernas ou já estavam pra acabar mesmo, como é o caso da Marvel Millennium. Essa ganhará uma série nova em julho com as novas séries Ultimate que estão saindo nos EUA.

Não foi anunciado o que será de revistas como Marvel Apresenta, Marvel Especial e Wolverine. A última deve seguir os moldes de 78 páginas. As duas primeiras são uma incógnita. Mas uma delas deveria continuar pelo menos. Afinal as sagas cósmicas e outras boas séries ficariam sem casa.

Algumas séries foram criadas. Homem-de-Ferro, que terá seu segundo filme esse mês, ganha sua própria série mensal de 78 páginas. Títulos na vão faltar. Afinal, além de sua série regular, o ferroso ganhou mais uma e os personagens que estarão no filme também terão suas séries, como é o caso de Viúva Negra. Boa sacada da Panini, aproveitar o sucesso do personagem e lhe dar uma revista própria.

A Teia do Aranha e A Sombra do Batman (péssimos nomes, eu sei) são outras duas boas sacadas da editora. Afinal os dois personagens são os mais populares do mundo e tudo que estampe seus nomes, vende. A proposta dessas séries de 148 páginas, de trazer histórias e mini-séries desligadas da continuidade do personagem é muito interessante. Afinal ambos possuem uma cronologia complicada. Não ficou claro se essas séries serão mensais ou bimestrais, mas certamente venderam bem.

Por fim a editora disse que vai apostar ainda mais em edições especiais e mini-séries. Nada foi anunciado a esse respeito, mas se seguir com a qualidade que sempre lhe foi característica, a Panini não decepcionará nesse quesito.

Como eu já disse essas mudanças não agradou muita gente e serviu pra evidenciar uma coisa: o mercado de quadrinhos de super heróis no Brasil estava estagnado. A editora não fornece o número das vendas, mas as distribuidoras garantem que as vendas vêm sofrendo vertiginosas quedas nos últimos meses. Revistas que custem R$14,90 podem ficar bonitas na estante e tudo mais, mas sem dúvida isso elitiza as publicações, afinal não serão todos que pagaram esse preço por uma revista. Claro que quem é consumidor fiel, não deixará de comprar suas revistas, mas se a idéia é atrair público novo, não é com mudanças desse tipo que tal resultado será alcançado. Ficou claro que a Panini investirá pesado no mercado de especiais e no selo Panini Books, mas esse investimento não está sendo visto no mercado de séries mensais. Faltam boas idéias para dar uma aquecida no mercado.

A editora disse que não mudará em nada as publicações Vertigo e Wildstorm. Não dá pra saber ao certo se isso é bom ou ruim. Não se sabe se as vendas estão indo bem ou se eles querem consolidar o selo de vez aqui no Brasil.

A última vez que uma editora prometeu tantas mudanças foi a Abril com as edições Premiuns, mudanças essas que acabaram dando um fim nas publicações de quadrinhos da editora, já que as séries ficaram muito caras pros leitores. Apesar de a Panini estar consolidada nesse mercado, há de se tomar alguns cuidados para que não repita os passos da Abril. A diferença é que o principal mercado de atuação da Abril não eram os quadrinhos.

Deixem seus comentários e vamos debater. Até a próxima.

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